22.12.08

Direto do trem

IC 2022 de Frankfurt a Hamburgo. Em um trem do outro lado do planeta, e ainda três ou quatro centenas de quilômetros do que eu no momento chamo de 'lar'. A caminho de Herten, onde irei encontrar minha irmã, meus tios e primos para as festas de Natal. Uma sensação bastante interessante, como sempre.

Junto à esta sensação estão dois outros tópicos, interconectados, sobre os quais quero escrever: uma conversa que tive com Raffaele, nosso posdoc italiano, e uma passagem que acabo de ler no 'Guerra e Paz' de Tolstoy, que estou a ler nesta viagem.

Com Raffaele, almoçando no restaurante universitário da Universidade, discutíamos os possíveis caminhos de uma carreira científica. Mesmo tendo viajado ao estrangeiro para outros pós-doutorados e posições como professor assistente, ele optou pela sua família, e sentia que, ainda que ele pudesse ter avançado mais, não seria possível fazê-lo sem alguns sacrifícios que ele não estava disposto a fazer. Como já contemplei em uma ocasião anterior, pergunto aqui: estamos fadados a viajar constantemente, de cidade em cidade, país em país, para construirmos novas amizades e relacionamentos somente para, em algum ponto futuro, tornar a deixá-los para trás?

Monica me lembrou, mais de uma vez, que nunca é errado investir nas pessoas: conhecê-las e com elas interagir. Com certeza, é um ponto válido, mas: será que tais escolhas simplesmente não permitem que se invista tanto quanto poderia de outra forma ser possível? Meu último post não discutiu propriamente esta questão. Considero, no momento, uma possível estadia de longo prazo na Alemanha, mas ainda tenho expectativas que dizem respeito, principalmente, às minhas habilidades de comunicação, e até qual ponto desenvolverei amizades profundas (ou, porquê não, um relacionamento?). E ainda assim, continuo com esta angústia (AAAAAAAAAAAAAA!!!) pela idéia de ter deixado todos para trás. Ao mesmo tempo, não consigo me imaginar, hoje, não ficar desapontado caso no final eu finalmente concluísse estar tão preso a um lugar específico - até pois, de diversas formas, parece ser o lugar errado.

'Guerra e Paz' tem uma passagem onde Nicholas escreve para casa do front. Ele pede que saudações sejam enviadas, em seu nome, para familiares próximos e amigos, bem como sua prometida Sophia. Há cinco anos, eu estava neste mesmo trem a caminho dos meus tios, e tinha este compromisso para com meu antigo lar. Desta vez a cena não mais se aplica - e por mais doloroso que seja, tento me convencer que é melhor assim. Como fica agora?

The Whiskas' lifestyle, por bem ou por mal...

21.12.08

Under the grey bavarian sky

Hoje completo dois meses de Alemanha. Altos e baixos: começar um projeto de pesquisa completamente novo, numa área florescente, ainda por cima em um lugar como o Instituto Max Planck; conhecer pessoas novas e re-encontrar velhos amigos; ótimas cervejas em qualquer bodega da esquina; possibilidades ímpares para o ciclismo; enfim, uma porção de coisas que posso colocar na categoria dos 'altos'. Por outro lado, bate uma saudade, e com ela, vem uma certa dose de angústia existencial quando contemplo a possibilidade de que eu talvez esteja aqui para ficar. Muito tenho discutido sobre este assunto, e francamente, ainda não tenho uma posição definida. Mas tampouco preciso decidir agora...
- - -
Depois de mais de um mês na universidade, o processo de familiarização com o tema está dando lugar a algumas indagações mais produtivas: 'o que acontece se eu mudar este parâmetro?', ou 'será que não há uma forma mais eficiente de calcular isso aqui?'. Nenhuma descoberta inovadora ainda; todavia já submeti o primeiro abstract para uma conferência, a reunião anual da divisão de Óptica Quântica da Sociedade Alemã de Física, que acontecerá em Hamburgo no início de março.
- - -
Nesta última semana, comecei a treinar de forma mais ou menos estruturada, ainda que tenha me restringido ao rolo devido ao tempo lá fora. Ainda assim, uma hora de treino antes de ir para a faculdade já produz uma saudável dose de endorfinas para o resto do dia. Hoje, porém, depois de uma sessão longa no sábado, havia decidido que iria para a rua de qualquer jeito. Optei por um dos meus trajetos preferidos, Schwanstetten-Harrlach-Meckenlohe, cerca de 25km ao Sul de Nürnberg. Quatro horas e 110km depois, voltei para casa enxarcado, mas de alma lavada. Pedaladas no frio e na chuva exigem uma quantidade extra de energia, para manter o corpo aquecido - dessa forma, o resto do dia consistiu de uma exaustiva reposição calórica...
- - -
Amanhã embarco para Herten, onde passarei o Natal na companhia da minha irmã, tios e primos. De lá ainda vem mais uma atualização; todavia, já deixo registrado aqui: um Feliz Natal para todos!

7.12.08

Sobre a rotina e outros assuntos

Comecei a esquadrinhar uma resposta ao comentário do Kàzic no post anterior, mas esta estendeu-se a ponto de transformar-se num post próprio. Em primeiro lugar, deixo claro que rotina não precisa significar lugar-comum: basta examinarmos a sequência dos dias do Desafio, onde todos os dias a 'rotina' incluia atravessar o continente de bicicleta.
Quero, sim, um pouco de estabilidade no dia-a-dia para poder me concentrar no doutorado e nos treinos para a próxima temporada. É impossível conseguir isso tendo de se mudar uma vez por mês, ou sem saber se na semana seguinte irei trabalhar 20 ou 60 horas.
Existe também um fator macrotemporal, mas daí 'rotina' não é a palavra certa. Rotina refere-se a uma sequência de atividades realizadas 'todos os dias' ao longo de vários meses - e pode compreender programações bem pouco usuais. Por outro lado, alternar entre diferentes rotinas em períodos maiores pode ser igualmente desafiante e de forma alguma chata: a 'rotina' de estar sempre disposto a começar algo diferente, daqui a um ano, ou 5, ou... amanhã?
- - -
Neste fim-de-semana, fui a Bamberg a convite do Michael**, meu colega aqui na república, que estava de aniversário no sábado, 6, também dia de São Nicolau. Depois de um jantar com todos a família - incluindo o melhor das cervejas da região, bem como os Schnapps preparados pelo pai dele - fomos para um clube no centro da cidade dançar e beber mais algumas. Só não voltamos para casa com o raiar do dia pois aqui, às seis horas da manhã, ainda é noite escura...
Voltamos para Erlangen na tarde de hoje (domingo), depois de dormir até o meio-dia e almoçarmos um tradicional almoço dominical com a família, seguido de chás e bolos. Reforço a minha necessidade intrínseca de fins-de-semana fora de casa, seja viajando, treinando, enfim: tais atividades dão outra perspectiva à semana que se inicia no dia seguinte...
- - -
** Michael ganhou o apelido de 'Whiskas do Mal'. Como o Whiskas original, ele é alto, magro, vegetariano e possui certas tendências nerds. É viciado em café e aprecia boas cervejas e vinhos. Tem, inclusive, uma metodologia de programação bastante parecida com a minha (coisas que aprendemos discutindo algorimos depois de uma garrafa de vinho). 'Do mal' pois, ao invés de cursar Física, escolheu a Computação; fuma, não escondendo estar sob efeito do vício; e não tem paixão por esportes de resistência, preferindo virar noites em clubs de música eletrônica. Música que eu adoro, aliás, mas cujos clubes absolutamente não fazem meu estilo - ou, principalmente, meu horário.

30.11.08

Enquanto isso...

Inicio divagando sobre a rotina. Depois de mais de um mês por aqui, percebo como já montei um 'roteiro' para as atividades por aqui. Estabeleci uma pequena sequência para os dias de semana (acordar, exercícios, banho frio, granola com iogurte, um espresso, pedalar pro campus...), bem como para atividades como limpeza do quarto, compras, arrumações, filmes, leituras, etc. Ainda faltam uma série de elementos ao que espero seja a tabela 'definitiva', mas já me divirto como está. Falta, é claro, voltar a treinar, mas estou aproveitando estas semanas de férias para outras atividades e assim acumulando suficiente vontade de pedalar para, em breve, encarar o inverno lá fora com longas (e frias) pedaladas para o período de base.
- - -
Saindo da rotina, este fim-de-semana aluguei uma Mercedes C-180 Kompressor e dirigi até o aeroporto de Frankfurt, para lá encontrar a Carol - que está vindo para iniciar, como eu, o doutorado por aqui. Infelizmente, ela perdeu a conexão em Lisboa, veio num vôo mais tarde, e na confusão da Tam/Tap/Lufthansa, ficou sem suas malas. Seguimos para Mannheim, onde ela fará alguns meses de curso de alemão no Instituto Goethe. Ela se instalou numa residência fornecida pelo curso, eu num hostel, e saímos para caminhar pela cidade, tomar um 'quentão' no Weinachtsmarkt e depois algumas cervejas locais no primeiro bar que pareceu apropriado.
Hoje nos encontramos depois do café-da-manhã e andamos pela cidade, em um tradicional 'roteiro turístico' com muitas fotos. Tomamos Caramel Macchiatos na
Starbucks, caminhamos pelos diversos calçadões, castelos e museus, antes de encerrar com um almoço na estação de trens e voltar para casa, onde eu havia estacionado o carro. Dirigi de volta, aproveitando a pista seca e as temperaturas amenas (5-7 graus positivos!) para andar um pouquinho... Veredito? 200km/h numa Kompressor é bem legal, mas nem se compara com a sensação de 60km/h na minha Cervelo.
- - -
Que venha dezembro!

9.11.08

Living the difference™

Vinte dias, ou quase três semanas depois. Quarto montado, todas as malas desfeitas, mountain bike em circulação. E ainda a Internet do vizinho.

'Vivendo a diferença', que tenho utilizado como mensagem de status e que intitula esse post, se refere à algumas das dificuldades que se enfrentam para se encaixar no padrão de vida daqui. Com a minha dupla cidadania, os formulários e procedimentos para estrangeiros não se aplicam, mas tampouco os caminhos para alemães 'nativos' são mais adequados. Eu entro em uma categoria bizarra de alemães que nunca fixaram residência na Alemanha, uma posição bastante singular.

Os emaranhamentos burocráticos, porém, são apenas a ponta do iceberg. No Brasil, meu caráter de exceção aparecia de uma forma disfarçada: eu era 'previsto' pelo sistema, apenas não concordava com este, e tentava, às vezes sutilmente, contornar ou exercer minha opinião - seja na universidade, no trânsito, enfim - o chamado Whiskas Lifestyle. Aqui, a situação se inverte: eu quero fazer parte do sistema, mas o simples fato de tentar, como bem colocou a Monica, já me faz diferente:

"You will always try, and because you try, you will never be like all the others.
And even if you don't try, you won't be like the others as well :)"
Não vou lutar contra isso. Muito pelo contrário: estas particularidades
definem um estilo de vida único - sobre o qual eu espero ainda ter muitas histórias para contar. Um 'viva!' às diferenças!

1.11.08

Quartos

No hostel onde fiquei nos primeiros dias após chegar:

O quarto da Pfälzerstr, logo após descarregar as compras da Ikea

Com o novo colchão e um pouco mais arrumado:
Estou muito contente de poder finalmente colocar meu nome na porta de um apartamento. A localização é muito boa, em uma rua tranquila, cerca de 15 min de caminhada do centro e 15 min de caminhada da universidade. A Doris e o Michael também parecem ser muito legais; acho que vai ser uma experiência divertida.

28.10.08

Sieben Sete 7 Seven Siete Sept ...

... uma semana, em todo caso.

Achei um lugar semi-definitivo para ficar: dividirei um apartamento com Doris, 27, estudante de matemática, e Michael, 22, estudante de informática que está fazendo um estágio na Siemens aqui na cidade. Estava começando a ficar preocupado: havia conseguido reservar apenas 5 dias no hostel aqui da cidade, que chegavam ao fim e eu ainda não havia encontrado nada. Domingo me mudei do albergue para a casa da VDSt, antiga república onde morava o Benjamin, onde me ofereceram o sofá da sala para me instalar provisoriamente até o dia 31 - meu 'contrato' na nova república começa no dia 1o de novembro.

Em paralelo às questões habitacionais, começar o doutorado foi um processo bem interessante. Como já falei, é uma área completamente nova, e eu não estava bem preparado para este 'choque' de diferenças. De forma um tanto instintiva, comparei os primeiros dias no Max Planck com meus primeiros dias na Siemens, há 5 anos atrás. Lá, já no primeiro dia, realizei algumas tarefas práticas/produtivas, obviamente num contexto bem diferente. Aqui, creio que precisarei ainda de algumas várias semanas até poder 'caminhar com as próprias pernas' - o que deve ser perfeitamente normal, mas não é como eu estou acostumado.

Hoje começou um novo bolsista no grupo, que dividirá a sala comigo, o que me trouxe um certo ânimo extra - eu fui alocado à uma sala junto com uma post-doc russa que passa a maior parte do tempo no laboratório, então ter uma companhia - que ainda por cima fala alemão! - é uma adição muito bem-vinda.

Minha mountain bike está em uma oficina para montagem; espero até o final da semana poder ir pedalando para o campus, transformando uma caminhada de meia hora num pedal de menos de dez minutos - além, é claro, de começar lentamente os treinos visando a temporada do ano que vem.

Hoje, por fim, cheguei em casa para me deparar com um convite do Benjamin para uma noite de queijos e vinhos junto com outros dois colegas da VDSt. *hic*, a data foi bem comemorada :)

24.10.08

Sempre a poça d'água.

Defendi o mestrado e atravessei o continente pedalando. Até aí, todo mundo acompanhou, certo?

Voltei, e praticamente ao mesmo tempo chegava em Porto Alegre Benjamin, vindo aqui de Erlangen, para passar quase um mês no Brasil. Aproveitamos para fazermos juntos uma série de programas, ele aproveitando para relembrar um pouco de alguns aspectos pitorescos da cidade e da região, eu lentamente iniciando minha despedida. Lancheria do Parque, idas ao Campus, passeios ao sítio em Nova Petrópolis. Muitos cafés, vinhos e cervejas, em deliciosas companhias. O tempo, como sempre, passou rápido demais, e eu acordei na segunda-feira com uma sensação de que ainda ainda queria ficar mais um pouco para fazer outras tantas coisas. Só mais uns minutinhos...

Uma pequena correria entre consulado (faltavam autenticar alguns documentos) e fechar a mala, e zarpar para o aeroporto a tempo de ainda ver o Benjamin embarcar. Meu vôo para São Paulo, no qual consegui lugar tranquilamente, só partiria algumas horas depois. Almocei na companhia dos meus pais e de vários amigos, ainda um espresso com todo mundo, despedidas, e lá me fui, mais uma vez.

Em São Paulo, depois de encontrar meu tio Fred no desembarque, também consegui um lugar facilmente na classe executiva do vôo para Frankfurt (valeu, Roni!). Comemos um sushi e tomamos um chopp enquanto conversavamos sobre a família, educação superior e a crise econômica; ainda apresentei algumas fotos da nossa viagem ao Chile antes da bateria do notebook acabar. Mais uma despedida, e passei para a sala de embarque, onde instantes depois chamaram nosso vôo. Fui recebido a bordo com champagne francesa e quitutes diversos, naquela que possivelmente foi a melhor poltrona em que já voei; em seguida uma comissária me oferece o cardápio e pede que eu escolha meus pratos para o jantar daquela noite, bem como o vinho que iria acompanhá-lo (optei por um risoto de frutos do mar com um vinho espanhol, cujo nome não mais lembro).

Desembarquei em Frankfurt depois de uma noite bem dormida e um café da manhã reforçado, e daí começou a novela de arrastar malas. Primeiro até a estação de trens do aeroporto (onde cheguei exatamente no momento que o trem para Nürnberg abria suas portas), depois para trocar de trem na estação central (pois nosso ICE foi 'confiscado' para revisão, e nos passaram para um IC), mais uma vez em Nürnberg na baldeação para o trem até Erlangen (o trem tentou partir antes d'eu terminar de colocar a última mala para dentro, por sorte o fiscal atento segurou a partida e liberou novamente a abertura das portas), e por fim na chegada em Erlangen, de táxi até o hostel. Minha reserva, por alguma razão, constava como a partir de quarta, e não terça, mas felizmente havia um outro quarto disponível para a primeira noite. Fui procurar o Benja na casa da VDSt, onde não o encontrei, mas os rapazes me reconheceram de 'outros carnavais' e me convidaram para umas cervejas para assitir um pouco de TV.

No dia seguinte, daí sim, tomei café com o Benja, fiz uma série de pequenas errandas - compras no supermercado, passar no banco, etc - e passei o resto da tarde olhando anúncios de apartamentos e escrevendo emails, alguns para perguntar sobre ofertas de aluguéis, outros para anunciar minha chegada aqui, por exemplo, para o pessoal da Universidade. À noite, jantei com o Benja, comida chinesa, chá brasileiro e um licor espanhol...

Willkommen in Deutschland!, diz Peter, meu orientador, marcando a reunião para a quinta-feira, às 11h. Caminhar aqui do centro da cidade até o campus leva em torno de meia hora; combinei com o Benja às 9h30 e chegamos lá pouco antes das 10h. Ele tinha uma aula, eu fiquei na biblioteca lendo um pouco até chegar o horário de bater na porta de Peter. Em menos de meia-hora, foi-se toda a burocracia - 'preenche esse formulário, este eu assino, tu assinas aqui, esta é tua sala, aqui está tua chave, a impressora é ali, alguma pergunta? ótimo, podemos falar de Física agora?'

E daí caiu a ficha: isso é um doutorado na Alemanha, e o ritmo aqui é outro - ainda por cima começando em uma área inteiramente diferente da qual eu vinha trabalhando no meu Mestrado. Tenho uma série de novas referências para estudar, novas definições para aprender, e algumas centenas de páginas de artigos pela frente - e é só o começo. Isso vai ser divertido.

Fiquei o resto da tarde estudando na minha mesa, devagarinho conhecendo o ambiente e os colegas. Rafaelle, um postdoc italiano, e Ludmilla, postdoc da Polônia, Nadja, doutoranda de Minas Gerais (teuto-brasileira); o grupo aguarda ainda a chegada de Seckin (doutorando da Turquia), bem como um alemão que deve fazer seu trabalho de conclusão conosco. À noite, saimos para uma pizza e algumas cervejas, Rafaelle levando junto sua esposa e a adorável Catharina, de 4 meses, e Peter, sua namorada japonesa (cujo nome eu não gravei). [Não consegui postar isso ontem, de forma que isso só foi ao ar hoje de manhã, aqui na rede da Universidade. Bom fim-de-semana!]

20.10.08

Embarcando

"A ship is in harbour safe, but that's not what ships are built for."
(Monica Mayer)

13.10.08

Despedida!

Domingo, 19 de outubro
Mulligan (Padre Chagas, 25)
20hrs

Be there, or be square!

10, 9, 8, 7

A contagem vai avançando e a lista de coisas a fazer diminuindo; somente uma semana agora até o outro lado da Grande Poça D'água. Se por um lado eu vinha me preparando para isto há um tempão, e por isso mesmo fechar a bodega por aqui está sendo um processo super tranquilo e sem atropelos, por outro lado acontecem uma série de eventos um tanto atípicos que geram situações não-usuais, e tornam tudo muito mais interessante.

A começar por terminar o mestrado: eu nunca havia defendido um mestrado antes! Menos de uma semana depois, iniciar a travessia do continente, evento para o qual ainda estou devendo um relato pormenorizado - algum dia, talvez. De volta, e no fim-de-semana seguinte a grande Chopeidança, marcando o início das festas de despedida.

Comecei então a riscar itens da lista de tarefas antes da viagem, lista essa que contempla coisas como
- tradução juramentada de históricos escolares e certificados
- elaboração de um novo passaporte (alemão)
- confecção uma nova mala-bike (para transportar meia casa)
- revisão na dentista (aprovado, sem nenhuma cárie!)
Ainda por vir:
- reunião para passar adiante o comando da equipe
- um último seminário junto ao grupo de Física Matemática
- apresentação de fotos da nossa viagem
- despedidas, despedidas, despedidas !

Já disse antes: "I believe in travellin' light!"

29.9.08

Whiskas' lifestyle

Ed.: For a translation, read the comment below. (27.12.2010)

As últimas semanas, e por quê não, os últimos anos, tem sido incríveis. Já falei algumas vezes da minha satisfação com o mestrado - que rendeu alguns posts sobre as provas, os seminários, a dissertação, a viagem ao Canadá, etc. Igualmente, no mesmo período, obtive outras conquistas no ciclismo, com diversas vitórias e participações em competições regionais, nacionais e internacionais. O 'Desafio Transcontinental' foi só a cereja no topo de um enorme bolo que tenho tido o prazer de degustar nos últimos tempos.

Me peguei pensando esses dias sobre como eu me posiciono perante todas estas coisas que tenho feito. Em geral, tendo a ser bastante discreto e comento pouco sobre viagens ou outros feitos, mas nem sempre ser modesto parece a melhor opção. Eu faço algumas coisas que são tidas como extraordinárias pela maioria das pessoas comuns. Aplicar a modéstia, nestes casos, pode soar até um tanto ultrajante...

- - -

Neste último final de semana, mal chegado ainda de volta do Chile, eu e a Carol comemoramos nosssa 'despedida' em uma grande festa no sítio em Linha Brasil, regada com 150 litros de chopp da Eisenbahn. Na volta, um baque ao finalmente 'cair a ficha' de que estou viajando em 3 semanas. Tic-tac...

22.9.08

There and back. Again.

The crossing of the south american continent over the past three weeks was simply the most incredible experience ever. Thanks, folks. What a ride.

Lu, Chefe, Kàzic: vocês são demais.

Full post to follow.

8.9.08

Atravessando o Continente..

Para quem está estranhando a falta de notícias, informo: estou atravessando o continente sul-americano de bicicleta. No momento, escrevo de San Francisco, com cerca de 1300km já para trás, e igual distância ainda por percorrer.

Acompanhem todos os relatos da viagem no blog oficial: www.elipse.com.br/desafio!

28.8.08

Se eu usasse o Twitter...

Domingo 24, 21h: "Concerto na ALJ e 14-Bis com o pai, onde discutimos os nervosismos e aprensões pré-defesa."

Segunda 25, 9h: "Últimos ajustes na apresentação. Quase lá!"
Segunda 25, 14h: "Indo defender um mestrado!"
Segunda 25, 15h30: "Master Whiskas!"
Segunda 25, 20h: "Mais comemoração com os amigos! Pizza ftw!"

Terça 26, 9h30: "Depois de espumante, tequila, vinho e cerveja, é um milagre acordar sem ressaca!"
Terça 26, 12h30: "Almoçar com o pai, depois ajudar o Gilnei com alguns pepinos pra viagem"
Terça 26, 21h30: "Bolinho de patata no Schullas e sinuca depois! \o/ "

Quarta 27, 10h30: "Treino curto, apesar do lindo dia de sol. Muitas errandas para fazer"
Quarta 27, 15h: "Chegando no Campus depois de algumas horas correndo atrás de cartórios, bancos e consulados. Documentação da viagem praticamente pronta! Almoço no Suprem com a 'dêgovada!"
Quarta 27, 16h30: "Reunião com a Sandra. Elogios pós-defesa dos outros membros da banca. Discutindo a implementaçào das poucas correções necessárias no texto"
Quarta 27, 17h30: "Café-da-tarde com Kàzic para discutirmos mais alguns detalhes da viagem"
Quarta 27, 19h30: "Indo pro Zelig para mais comemorações com orientadora e outros professores."

22.8.08

You'll soon be leaving this town

4 dias para a defesa do Mestrado, 9 dias para o Desafio Transcontinental, e menos de dois meses para a mudança pra Alemanha. Estou mais tranquilo para a defesa do que para a travessia, mas a soma de ambas, além do momento em que esses dois eventos se encaixam, tornam as coisas bem interessantes.

Ainda não surtei, ou pelo menos asim eu penso :)

11.8.08

Whiskasaddictions

Our espresso machine is back! No more paying as much as R$ 2.00 for a decent dose of the daily fix.

Outside of the caffeinated beverages, it's a tight match between Leffe, Beck's and Löwenbrau and Finca Flichman and Concha y Toro. Can't wait to learn some different names - soon.

On the healthier side, through a loaded trunk of oranges and tangerines brought from Linha Brasil, I have probably a dozen times more Vitamin C in my body than the recommended daily dosage. Which makes riding in torrential rain a lot less worrisome, and therefore, more fun.

- - -

Come to think of it, life can be quite simple. Eat, work, sleep; take the dog for a walk; go about on a photographic journey downtown, or ride your bike across the continent. As simple as that. Off!

4.8.08

Rock-n-roll'ing

Last Tuesday, I got some interesting piece of news:


Dear Ricardo,

Based on our chat on skype and your CV, I have come to the conclusion that I would like to offer you the PhD position in my group.
(...)

With best regards,
Peter

Starting in October, I'll be working towards my Ph.D. at the newly formed Max Planck Institute for the Science of Light. Peter will be my advisor as we tackle some open questions regarding Quantum Information, Computation and Communications.

My dissertation kept me busy for most of the week, as I got back the copies I had sent to Sandra (my advisor), my godmother and a mathematician friend of mine. Corrections throughout, ranging from grammar and orthography to rewriting (or including) entire sections. Last Friday I handed Sandra the latest version, to which I have just received the final minor corrections.

To top it off, I won the first stage of this weekend's "Volta de Caravaggio" (Caravaggio Tour), a 10.5km time trial, thus earning my 4th victory this season. I won by a 9s margin to Cleiton Fadanelli (Acaci/UCS), which proved to be a tad short to hold onto the overall win. On the second stage, an 80km circuit race, Cleiton won an intermediate sprint (worth 3s bonus) and placed second (another 10s time bonus), while I could only manage 5th (no bonus seconds); he ended up taking the win just 4s ahead. Nevertheless, a great result. Here's to the coming week: Cheers!

29.7.08

Nasceu!

"Pesando 315g e medindo 297x210 mm, nasceu ontem às 19h20 a Teoria de órbitas periódicas no espectro e condutância de grafos quânticos. O parto ocorreu através da nova impressora Xerox Phaser 4510DT na sala N223 do Instituto de Física.

Foi levada diretamente para a UTI neonatal, para tratar de alguns pequenos problemas de má-formação. Ainda na noite de ontem, já sofreu as primeiras cirurgias corretivas. Na tarde de hoje fará a primeira consulta com sua pediatra. A expectativa é de que ela esteja em boas condições em uma semana, quando será encaminhada, clonada, para seus padrinhos da Banca Examinadora.

O batismo está marcado para o dia 25 de agosto."

24.7.08

Batalha sem honra*

Havia planejado comprar ingressos do Alsdair Roberts na volta do treino de hoje. Estava pedalando no circuito da Beira-Rio, e dirigiria-me depois para a zona norte, então era caminho passar no Santander Cultural, na avenida Siqueira Campos.

Desmonto ao pé da escadaria, ponho a bicicleta no ombro, e me dirijo ao balcão de informações.

"Oi, por favor, ingressos para o Alasda..."
"Desculpe, mas não é permitido o ingresso de bicicletas."
"Eu só gostaria de comprar dois ingressos para o show do Alasda.."
"Perfeitamente, mas o senhor deve deixar sua bicicleta do lado de fora."

Pergunto se eles tem um bicicletário, a resposta é negativa. Argumento que é uma bicicleta de competição de alguns milhares de reais, e não seria sensato deixá-la na rua, mesmo que por poucos minutos. "Não posso tirar as rodas e entrar com ela desmontada?" Novamente, um não.

"Ok, tenha uma boa vida", viro as costas e vou embora, já arquitetando mil protestos contra uma instituição que não respeita ciclistas e formas alternativas de transporte, pensando em escrever para o jornal, montar uma manifestação, etc. Pego o carro, ponho a bike no porta-malas, e sem nem tirar o uniforme e o capacete, volto para o Centro. Estaciono e caminho até o Santander, subo a mesma escadaria, e tento de novo:

"Oi, por favor, ingressos para o Alasdair Roberts, desta vez sem bicicleta."
"Um segundo, vou chamar o rapaz que vende os ingressos."

Espero meio minuto, e o mesmo cara que havia negado minha entrada antes aparece de trás do balcão de informações, pergunta quantos ingressos eu quero, e daí me aponta para a entrada da mostra de sei-lá-o-quê que está sendo exibida lá. Já colocando os ingressos no bolso, explico que eu não queria ver a tal exposição.

"Eu só queria os ingressos mesmo, obrigado"
"Ahn? Desculpe, eu achei que você queria deixar a bicicleta aqui para entrar na mostra."
"Mas foi o que eu disse na primeira vez: ingressos para o show de domingo!"
"Mal-entendido. Claro que você poderia ter comprado os ingressos com a bicicleta antes. Desculpe novamente."

...

* "Battle without Honor or Humanity", do Tomoyasu Hotei.

21.7.08

Sunday as usual

Carol threw her first milestone party last Saturday, celebrating 80 days to go until she flies to Germany for her Ph.D. ( my own count stands at 92 - amazing how fast one hundred days have gone by). I left early and, although tempted, didn't join the rest of the gang who went out dancing. Rather, enjoyed the loneliness of a middle distance runner with a good night's sleep, and on Sunday morning, drove the break to the Clockwork Orange's second win in as many weekends. But if last Sunday was summer-like, winter more than made it up this time with proper grey background and a cold drizzle - so much the better, as this was my third victory in adverse weather in just over a year.

This evening I had the pleasure to enjoy a rock concert by Conor Oberst and the Mystic Valley Band - a welcome addition to my list of indie rock bands I'm learning to enjoy. Thanks Carol and Kàzic for the suggestion and company. No Mulligan celebration today; drinking a glass of wine instead :)

- - -

My diss is almost there; just a tad short of 50 pages; still missing are the main discussion of my results and some further talk about the conclusions. I had originally hoped to hand it in last week, but failed after some catastrophic numerical woes took longer then planned to be solved (still an open question, working around it as we speak). The date of my defense has been set for August 25; the committee consists of Profs. Carolina Nemes (UFMG), Felipe Rizatto and Cristiano Krug (UFRGS). Also held interesting talks with the Optical Quantum Information Theory group in the University of Erlangen. While my application to Munich is still pending, Erlangen's friendly Prof. van Loock may just tip me to coming back to my "native" Mittelfranken. At any rate, there'll be some Bavarian beer down the road in the coming few months!

7.7.08

Wrapped up in books

The week went by almost too fast. Cloudy weather throughout, still managed a couple of good training rides; the weekend greeted us with warmer temperatures and blue skies, which made the almost 200km of riding a lot more pleasant. Almost finished with the second chapter on my thesis, to which I'm slightly behind schedule. I'm finding out that writing isn't as straightforward as I'd expected, but it should still come together just-in-time. It's one thing reading to convince yourself you have learned, it's quite another to be able to explain and justify the procedures involved - a most interesting experience.

Great concerts on Tuesday, when OSPA played Strauss to a full house in their last showing at the old Leopoldina theater, and yesterday with Ulbra's Chamber Orchestra playing Vivaldi to another crowded house. Great after-concert entertainment too: sushi with Luciana and Von Gehlen, and a full-blown night at the Mulligan Pub with Vi, Carol, Marilia, Pedro, Kázic, Spritzer and his German visiting student Sebatian to close down the Sunday evening in style.

My desk looks a mess with five books and about that many articles covering pretty much all its available surface. Still plenty to write to finish off this chapter, and it doesn't help that I've been daydreaming quite a bit along the way as some interesting perspectives can already begin to be seen in the near horizon. In the meantime, a certain schedule begins to dominate: I come from training to campus to home (with showers and food and the occasional ciesta in between) and repeat, with occasional get-togethers interweaved. Songs by Belle and Sebastian dominates the soundtrack, with Smashing Pumpkins, Radiohead, U2 et al mixed in (right now, I blog and write to the sound of Tchaikovsky's 4th Symphony ). Though I'm slowly reminded that I must find time for some important, though seemingly non-essential activities, I find myself more and more absorbed by this vicious lifestyle... Cheers to that!

30.6.08

Contexto para quê?

Me: Embora ao contrário, foi o oposto que inverteu a situação.
Kàzic: !?
Me: Exato.

Depois de estar, ao longo dos últimos 6 finais-de-semana em função de corridas e/ou viagens, tive a oportunidade de passar este em Charqueadas, na casa dos pais do Kàzic. Boas pedaladas, seguidas sempre da farta mesa preparada pela dona Ana, vinho e conversas em volta da lareira, e aproveitando a tranquilidade do local, um ótimo sossego. Os machucados mostram sinais de melhoria, e já consigo desfrutar uma noite de sono sem acordar todo dolorido.

Estou esquecendo de algo, ou assim acredito. Tanto faz. Boa semana!

26.6.08

Confortably numb

But I'm still feeling everything! And it's not comfortable at all. Somebody change the lyrics! "I have become... uncomfortably sore" (Thanks Pedro for the helpful discussion on the translated antonyms).

At first, last weekend's crash didn't seem so bad, but the wounds made it difficult to find a comfortable position to sleep, and I woke up quite sore the following days. It's also a little hard to walk normally - and I keep laughing at myself whenever I notice I'm dragging my right leg along. Crashing while racing, as I've had so many opportunities to realize this year, gives one a new perspective on the use of the body as a tool, and I'm surprised as to just how well this tool performs, even in adverse conditions. It's recovery capabilities are also top-notch: today was the first night I slept (mostly) normally, to which I jokingly added that, were there races this weekend, I'd be ready for the next one. "Chão!!" ("Floor!"), to me, has quite another meaning :)

A cool, cloudy, grey weekend: winter's here. Time for a warm beverage and some bike cleaning...

23.6.08

Praia, vento e um banho de mar

A semana que se passou pode resumir-se num espírito de "voltei". Depois da semana curta entre a conferência e o Brasileiro, finalmente pude recuperar um pouco do sono e tocar algumas atividades que haviam sido postergadas desde um mês atrás, ou mais. Trabalhei um pouco no meu artigo e na minha tese, assisti alguns seminários, enfim, voltei à uma rotina um pouco mais "normal".

Neste fim-de-semana, depois de quase um mês longe do certame regional, participei do GP Capão da Canoa, antigamente conhecida como "Volta do Litoral". Tinha uma certa expectativa em aproveitar a boa forma do Brasileiro numa corrida por aqui, e não me desapontei. Na etapa de sábado, percorríamos 90km entre Capão da Canoa, Tramandaí e Osório, retornando a Capão pela Estrada do Mar. Com um forte vento cruzado em direção a Osório, lancei um ataque na compania de Rodrigo Sartori (APEG) logo após a primeira meta volante, e abrimos uma vantagem em relação ao primeiro pelotão. Ao fazer a curva em Osório, o vento colocou-se de cauda, e rapidamente andávamos a 60km/h, ampliando nossa vantagem sobre o grupo, que não conseguiu organizar uma perseguição efetiva. Nos últimos 20km, após girarmos novamente em direção ao Norte, o vento voltou a ser cruzado, exigindo muita técnica para mantermos as bicicletas em pé. Rodrigo fez a maior parte do trabalho - devo dizer que eu já estava moído; havia focado meus treinos em esforços mais curtos - portanto optei por não disputar a chegada e cruzei a linha na segunda colocação, quase dois minutos na frente de Cleiton Fadanelli (Acaci/UCS), que encabeçou o pelotão.

No domingo, pretendia defender minha colocação marcando Cleiton (3o) e Jeferson Molter (APEG), 4o colocado, meus adversários diretos. Nossa equipe logo perdeu Gilnei, que não resistiu ao forte ritmo impresso no circuito, de modo que fiquei sozinho para cobrir os ataques dos atletas da APEG, bem como as investidas dos três atletas da Beto's Bike. Após a primeira meta volante, Cleiton, Rodrigo e Everson de Assis (Beto's) abriram uma vantagem, que não consegui neutralizar. As outras equipes presentes no pelotão não conseguiram organizar uma perseguição, e eu optei por torcer que Everson não iria conseguir somar mais pontos que eu havia feito no dia anterior. Infelizmente, ele pontuou na segunda meta e, com um segundo lugar na chegada final, me ultrapassou por dois pontos no somatório geral. Acabei, portanto, na 4a colocação, depois de ainda sofrer um tombo na última volta, quando uma rajada de vento me empurrou contra um trecho coberto de areia na (esburacada) avenida Beira-Mar, me fazendo perder o controle e ir ao chão.

Ainda assim, havia conquistado um lugar no pódium. Havia prometido anteriormente que, se conseguisse tal feito, tomaria um banho de mar após a prova, o que cumpri tão logo terminada a cerimônia de premiação. Nosso júnior Lucas Barcellos, vencedor em sua categoria (parabéns, piá!), prontamente decidiu acompanhar-me na indiada, e saímos correndo, ainda de uniforme, rumo ao achocolatado mar capãodacanoense. For the win!


De volta em casa, ainda um quentão com Vitorio, Carine, Rocca e Kazic na orla do gazômetro e um xis-camarão no 14-Bis para repôr algumas das calorias do final de semana, antes de encerrá-lo com uma Leffe escrevendo este relato. Uma boa semana!

16.6.08

A jornada é o destino

Cheguei em casa, retornando do Canadá, no final da tarde de segunda-feira. Havia levado junto a bicicleta de forma a poder realizar alguns treinos por lá, mantendo assim a forma que esperava ter polido para o Brasileiro. Na terça-feira, entreti-me durante o dia inteiro com a realização de uma prova de admissão para a Universidade de Munique, que me foi enviada pela manhã e cujas respostas deveriam ser retornadas, por fax, até o final do dia. Na quarta-feira, fiz um último treino forte no circuito da Beira-Rio, e no dia seguinte, apenas uma sessão leve, para recuperar as pernas.

Neste interim, meu pai teve confirmada uma viagem aos Estados Unidos, fazendo com que ele abandonasse os planos de dirigir comigo até Morretes, distante cerca de 50km de Curitiba. Parti então numa (frustrada) busca por um motorista, até concluir que não deixaria 750km de direção me impedirem de coroar a preparação de quase seis meses - e assim, ao raiar da sexta-feira, coloquei-me na estrada.

Foi muito mais tranquilo do que eu esperava, mesmo com as condições adversas de alguns trechos da BR-101. Cheguei em Morretes ao cair da noite, para descobrir que meu quarto, reservado no único hotel da cidade, já estava ocupado. A recepcionista tentou me convencer a dividí-lo com o sujeito, mas não era meu plano compartilhar um quarto com um perfeito estranho. Com um pouco de sorte e ajuda de um dirigente de outra equipe, encontrei uma simpática pousada onde ainda haviam quartos disponíveis, e lá me instalei.

No sábado realizava-se a prova de resistência, na distância de 190km, a qual optei por não participar para conservar as pernas para a disputa de domingo. Optei por uma pedalada de reconhecimento, percorrendo o percurso de 32km onde seria disputado o contra-relógio do dia seguinte. Depois de um rico prato de massa no almoço, uma ciesta e uma lavagem geral na bicicleta, entreti-me conversando com alguns colegas paulistas, contando um pouco sobre a situação do ciclismo aqui no Sul.

Dormi surpreendentemente bem, considerando o nervosismo que usualmente me afeta às vésperas de competições importantes. Porém, ao acordar com o alarme às 6h45 do domingo, fui surpreendido com o barulho de chuva e um cenário completamente encharcado. Café da manhã, coloquei a bicicleta e o restante do equipamento no carro, e dirigi-me para a largada. Eu era o 39o de 91 ciclistas a largar (os primeiros largavam de minuto a minuto, e os dez últimos com intervalos de dois minutos). Chovia muito, o que levou a organização a atrasar a primeira largada em mais de uma hora. Ainda assim, fiz todo meu aquecimento na chuva, e ao dirigir-me para minha largada, ainda caia alguma água.

Um minuto, e sou chamado para o alinhamento. Trinta segundos, já posicionado na rampa de largada. Vinte, dez, três, dois, um, e estou a caminho, inaugurando minha nova roda Renn 575, que faz um barulho fenomenal à cada revolução. Duas curvas para sair da cidade, e na segunda, quase resvalo ao passar por uma faixa molhada da pista. Tento não desconcentrar e impor um ritmo na longa reta dos primeiros 6km, ao final da qual já estava ao alcance do ciclista que largara um minuto à minha frente. Ultrapasso-o poucos quilômetros depois, mantendo um bom ritmo até a marca de 12km, onde iniciava-se a primeira subida do percurso. Fiquei bastante satisfeito com a minha performance contra a gravidade, mas claramente um contra-relógio com altimetria tão irregular não me favorecia. Na descida, ainda muito molhada, tive de segurar um pouco nos freios, o que me custou alguns segundos à mais. Outros cinco quilômetros ondulantes antes da última subida longa, que consegui transpor sem quebrar o ritmo. Na descida, passo pela placa indicando "Faltam 10km". Mais uma curva fechada para a direita, negociada em baixa velocidade, e entro no último trecho ondulante, me aproximando da cidade de Morretes. Nos últimos 3km, já no perímetro urbano, um pequeno público encontra-se distribuido às margens da rodovia. Últimas curvas adentrando o centro histórico, desvio de um pequeno incidente com uma caminhonete que não respeitou as direções da fiscalização de trânsito, e na reta final, completo um esbaforrido sprint de 300m para cruzar a linha.

Descubri que, ao cruzar a linha, tinha o 7o melhor tempo (45m09s) - o melhor era então de Magno Nazaret (Scott), com 42m23s - mas este logo foi melhorado pelo ex-Elipse Software Rodrigo do Nascimento (Sales/Pinarello), que cravou 41m17 e parecia favorito para vencer a disputa. O tempo está mostrando sinais de melhora, a chuva sendo substituida por um tempo nublado, e as nuvens devagar dissipando-se devido ao leve vento serrano. Aqui e ali, já se viam alguns raios de sol. Outros atletas iam completando o percurso, eu vendo minha colocação caindo sistematicamente, mas na hora, me sentia muito leve, quase ignorando o cansaço pós-prova. Uma sensação de dever cumprido.

(Ao final, apenas o então campeão da modalidade, Pedro Nicácio (Scott), e o novo reinante, Cleberson Weber (DataRo), conseguiram melhorar o tempo do Rodrigo, que levou para casa uma fantástica medalha de bronze.)

Volto para a pousada para um banho, ponho a bicicleta no carro, e me encontro para almoçar com uma turma que iria até Florianópolis para seguí-los por um caminho diferente (via balsa em Guaruvá e Itapona), encurtando o trajeto de volta. O regresso foi tranquilo, ainda que bastante longo. Para finalizar, compartilho uma mensagem que enviei para alguns amigos quando cheguei em casa

"São 2h10 da manhã e eu acabo de chegar em casa depois de dirigir por quase 12h voltando de Morretes.
(...)
Foi uma jornada incrível, desde o primeiro treino no início do ano, passando pelas viagens para Alemanha, Uruguai, Canadá, os inúmeros treinos na companhia de vários de vocês, até completar os 32km do contra-relógio, encharcado, sujo, quase sem fôlego, mas de alma limpa. Uma experiência fantástica, e só posso agradecer a vocês que, mesmo no final, quando eu tinha dúvidas, sempre estiveram lá para dar o empurrão que eu precisava.
(...)
Meu resultado - obtive o 30o lugar, dentre 77 ciclistas que completaram a prova - foi talvez apenas mediano. Uma série de fatores podem ter contribuido para eu não ter adentrado o esperado top 20, mas estes são agora irrelevantes. Muito mais importante foi a sensação, ao cruzar a linha de chegada, de ter honrado toda a preparação fazendo o melhor possível naquela ocasião. Neste meio ano, muito além de treinos e corridas memoráveis, viajei para lugares novos, conheci pessoas incríveis, fortifiquei amizades e descobri mais sobre mim mesmo do que esperava. O caminho foi tão cheio de atrativos que, sem desmerecer a destinação final, já havia feito toda a empreitada valer a pena.

Que a(s) jornada(s) até o(s) próximo(s) destino(s) seja(m) no mínimo tão frutífera(s)!

12.6.08

Regresso

A volta do Canadá não foi sem alguns percalços. A diária na residência da universidade terminava ao meio-dia, mas meu vôo não partia antes das 20h. Tentei negociar um checkout mais tarde, mas tal pedido foi negado, então tive de cancelar meus planos de uma pedalada naquela linda manhã de sábado para arrumar a mala e liberar o quarto antes do almoço. Deixei as malas na recepção e saí para mais uma caminhada, para ainda olhar algumas lojas de ciclismo, almoçar, etc. No meio da tarde, parti para o aeroporto, onde consegui lugar num vôo mais cedo, de modo que tive mais tempo para encontrar o Omar "Ekevoo" no aeroporto de Toronto.

O vôo da Air Canada atrasou quase uma hora, devido à problemas na aeronave, que teve de ser substituida. Nada de mais; foi um vôo tranquilo. Em São Paulo, onde aterrisamos as 11h30, fiz a alfândega e o check-in para o vôo para Porto Alegre, que partiria as 14h. Embarcamos no avião com talvez 15 minutos de atraso e justificaram, como razão da demora, o mau-tempo em Porto Alegre. Quase meia hora depois, com os passageiros já todos sentados e o avião ainda no finger, o piloto se dirigiu à nós, informando que nossa decolagem havia sido cancelada, pois o aeroporto da capital gaúcha não apresentava condições para pouso. Ao desembarcarmos, recebemos um "vale-reembarque" da TAM, que porém não sabia dizer como tal vale seria utilizado. Depois de inúmeras indas e vindas à loja da compania(*) e ao balcão de check-in, conseguiram remanejar-me para o vôo das 16h45, o qual partiu quase pontualmente.

(*) a grafia é minha. Eu digo compania, logo, assim o escrevo.

Decolamos, serviço de bordo, etc. Quase uma hora de vôo já havia se passado quando o comandante dirige-se aos passageiros, avisando que estavamos iniciando um procedimento de espera circulando sobre Criciúma, aguardando as condições em Porto Alegre melhorarem. Alguns vinte minutos depois, ele volta ao comunicador, avisando que as condições haviam piorado e o aeroporto encontrava-se agora indefinidamente fechado, e que iríamos alternar de volta a Guarulhos. Ponto alto foi, após o pouso, a comissária avisar no intercom: "senhoras e senhores, bem vindos a São Paulo" - a pobre moça foi vaiada por um coral de passageiros...

Após mais alguns intermináveis momentos de indecisão, organizaram a remarcação dos vôos - consegui um novo lugar no vôo das 14h do dia seguinte - e foi providenciado um hotel para os passageiros que, como eu, haviam ficado ilhados. Nada restou a fazer senão cair na cama e dormir quase 11h ininterruptas, matando tempo no hotel até a hora de pegar o ônibus de volta ao aeroporto no final da manhã de uma ensolarada segunda-feira. As informações que recebiamos eram contraditórias - alguns passageiros afirmavam que o aeroporto estava aberto, informações da compania diziam que os vôos para Porto Alegre ainda estavam sendo cancelados ou atrasados indefinidamente - o que não ajudava em nada nos ânimos já exaltados de grande parte dos viajantes. Por fim, com quase uma hora de atraso, chamaram para o embarque, e dali por diante, foi um vôo normal, módulo o atraso e a confusão para retirada de bagagens, pois pousaram 6 aeronaves num intervalo de menos de meia-hora, sobrecarregando a diminuta capacidade do nosso terminal provinciano.

Enfim, em casa, ou não.

7.6.08

whiskas@ca #4

Ao final da tarde de hoje, resumi para o Pedro numa conversa:

[18:19:23] Whiskas @Montreal :
1 - Estou feliz. Acabou.
2 - É só o começo. Minha vida começa a se decidir semana que vem.
3 - ...
Acho que isso é um post.
Basicamente, é isso. O workshop terminou. Assistimos à última apresentação, batemos muitas palmas para o comite organizador, cumprimentei um, despedi-me de outro, retirei o pôster, e capotei na cama do hotel. Sofri um monte com uma matemática muito mais profunda do que estou habituado enquanto físico, mas aprendi um monte. Fiz alguns contatos, acadêmicos e pessoais, muito interessantes. Depois de um breve descanso, saí com os outros estudantes (em sua maioria doutorandos e post-docs) para irmos a um pub tomar um chopp canadense (Boreale Rousse! Oui, oui, oui!), e voltei refletindo como é ao mesmo tempo fantástico desenvolver amizades tão intensas em apenas uma semana, como também é triste nos despedirmos sabendo sabe-se lá quando iremos nos encontrar de novo. Ossos do ofício; é um mundo cada vez menor, e é fantástico conhecer pessoas interessantes nestas oportunidades únicas.

Uma última pedalada amanhã, talvez algumas compras antes de ir para o aeroporto, e então, a semana do ano - com uma possível definição do meu doutorado e o campeonato brasileiro de ciclismo no próximo final de semana. Daí, finalizar um artigo, escrever a dissertação, correr o que mais houver no calendário, e ... that's life. Por hora, sem mais divagações. Saudações canadenses!

5.6.08

whiskas@ca #3

A conferência começou. Descobri que diversas das faces que eu tinha visto pelos corredores da residência eram, de fato, participantes. Até agora, está sendo uma experiência fantástica, podendo finalmente colocar rostos nos nomes que por tanto tempo li nos livros e artigos - um é um careca, outro um gurizão atirado, outro um velinho já recurvo pela idade, etc.

Como o nome do evento já anunciava, é um encontro de matemáticos, que às vezes, e só às vezes, discutem a aplicação de alguma teoria abstrata ao caso real. A classe dos físicos está em clara minoria. Isso quer dizer que, em algo como 50% das sessões, eu não entendi nada além do segundo ou terceiro slide - ou, como foi o caso de várias delas, depois dele apagar o quadro-negro pela 2a ou 3a vez. Seja (X, g) uma variedade Riemanniana compacta sem borda, e seja −LB(g) o operador de Laplace-Beltrami sobre X, assumindo que ele resolve o problema associado de autovalores. Então, se tivermos uma geodésica semi-hiperbólica fechada que satisfaça pelo menos ... repitam 3 ou 4 vezes por dia, com uma hora de duração cada.

Porém, numa nota mais positiva, apreciei bastante as apresentações dos físicos, as quais eu pude entender ou discutir um pouco mais. Recebi alguns comentários legais sobre o meu pôster, mas ele é muito mais interessante sob o ponto de vista físico - a matemática por trás do meu resultado é relativamente simples, portanto, não é talvez tão atrativa para os colegas aqui. De qualquer forma.. Contatos muito legais num ambiente realmente plural. Temos pesquisadores de todas as etnias possíveis, e de forma idealista, me dá certa esperança ver um pesquisador da Universidade de Tel-Aviv participar da sessão de um matemático iraniano... Conversei bastante com um pesquisador ucraniano, um doutorando japonês e um professor de Chicago, por exemplo. Globalização...

Na segunda-feira à noite, após as sessões de abertura, tivemos um delicioso coquetel de boas-vindas, no qual me diverti muito discutindo aplicações de grafos com o tal ucraniano enquanto tomávamos um vinho australiano e beliscávamos da amostra dos melhores queijos franceses oferecidos... Ontem fomos downtown, passeamos pela cidade subterrânea, e provamos uma deliciosa Ale canadense antes de voltar para a residência. Hoje, por fim, saí da conferência e pedalei até Petite Italie, o bairro italiano de Montreal, onde realizava-se uma etapa do Tour de Montreal, prova feminina válida pelo ranking internacional. Torcendo e gritando pelas minhas amigas da Nürnberger Versicherung, devo ter chamado a atenção da imprensa local; fui entrevistado por uma repórter que queria entender o que um brasileiro fazia ali gritando por uma equipe alemã... Bom, tentei explicar no melhor francês possível, mas imagino que será editado antes de ir ao ar. Para grande alegria, a prova foi vencida pela Suzanne de Goede, depois de um fantástico trabalho da equipe nuremberguense. Cumprimentei as gurias no final da prova e segui para o caminho de volta, o sol estava se pondo e começava a esfriar...

Agora, de volta no quarto, e depois de um bom banho quente, fiz uma janta com uns pãeszinhos, queijo e um achocolatado, comendo enquanto escrevia o relato. Por hora é isso, au revoir!

2.6.08

whiskas@ca #2

Minha ciesta acabou se extendendo e perdi a chegada da corrida ontem, que foi vencida pela Judith Arndt (High Road) sobre a Fabiana Luperini (Menikini-Selle). Saí para caminhar, sob o pretexto de ir procurar uma loja de bicicletas, e aproveitei para fazer algumas fotos e conhecer um pouco mais o lado residencial de Montreal. Tive ainda a oportunidade de roubar a placa indicativa de "2km para a chegada", que era coincidentemente aqui do lado da Universidade; dobrei-a e coloquei embaixo do braço no caminho de volta para o alojamento :P

Pretendia ainda sair para pedalar no final da tarde de ontem, coisa que não fiz, primeiro por causa da chuva, depois pelo receio de não voltar antes de escurecer. Acabei saindo a pé para fazer compras e montar um pequeno estoque de pães, croissants, queijos e chocolates para os primeiros dias da semana. Na cama cedo, fui recuperar o pouco sono da viagem, capotando pouco depois das 21h.

Levantei hoje pouco após as 7h (nada como quase dez horas de sono ininterruptas!), fiz o café-da-manhã no saguão do hotel, e fui me vestir para pedalar. O dia mostrava-se mais animador que o anterior, com bastante vento e alguns raios de sol entre as nuvens cinzas. Com uma camisa de manga longa e uma folha de jornal por baixo, saí em busca do percurso da Estacade, que me recomendaram como um bom lugar para treinos de contra-relógio - 11km, planos, sem sinaleiras ou interesecções, numa península ao sul da ilha de Montreal. Havia montado um roteiro após consultar os mapas, mas este foi logo por água abaixo (devo dizer morro abaixo?), quando encontrei uma das principais avenidas que eu deveria tomar fechada por obras, e tentei como pude me orientar de cabeça na direção sul-sudoeste.

Parei para consultar o mapa, mas qualquer outro caminho envolvia uma miríade de pequenas ruas para cruzar o canal, o que me levou a circular um tanto pelo centro financeiro da cidade até chegar numa segunda ponte - infelizmente, uma autopista, com um símbolo "proibido bicicletas" desencorajando qualquer tentativa de seguir por ali. Segui costeando o canal para procurar uma outra ponte, quando descobri que o canote do selim não havia sido propriamente apertado; meu banco já estava quase 1cm mais baixo do que quando eu havia montado a bicicleta. Para completar, o mapa voou do bolso da minha camisa - nada difícil de se imaginar, dado quanto ventava. Resolvi seguir adiante, sabia que o canal desembocaria no rio Saint-Laurent, que me permitiria fazer o contorno da cidade até algum lugar conhecido.

Cheguei no final do canal e comecei a pensar num trajeto para a volta. Até ali, o pedal era um grande candidato ao título de experiência miserável sobre rodas no estrangeiro. Então, pedalando de volta um trecho da ciclovia, passam 7 ciclistas com uniformes da Nürnberger Versicherung (maior equipe feminina da Alemanha) e da Menikini. Opa! Faço meia-volta e sigo atrás delas (fiz um vídeo desta aproximação), e logo em seguida dou um Oi, dizendo que eu morei um tempo em Nürnberg e conhecia a equipe (um colega da minha antiga equipe na Alemanha era grande amigo e colega de treino delas). Fiz alguns vídeos e mais algumas fotos, logo mais o grupo se separou, e duas meninas seguiram na direção que eu tomei, acreditando que se tratava do caminho de volta para a residência. Conversei bastante com a Larissa Kleinmann, enquanto sua colega sueca, Marie Lindeberg, não se animou muito. Fizemos juntos o caminho de volta subindo o Mont-Royal (a Larissa reclamando muito da subida, ponto onde ela havia abandonado a prova ontem), e descobri que elas estão alojadas praticamente do lado do meu "hotel". Durante a semana elas participarão de outras corridas aqui por perto, uma delas no final da tarde, que tentarei ir assistir depois da conferência...

Depois de um banho, saí para almoçar e caminhar pela cidade; comi uma pizza no pequeno centro comercial próximo da Universidade, e segui caminhando em direção ao centro da cidade. Consegui fazer o caminho que pretendia ter feito com a bicicleta, afinal a pé é mais fácil contornar os desvios... mas logo me desviei para entrar nesta ou naquela ruela, em busca de uma vista diferente, algumas fotos, souvenirs... Ao final, caminhei quase cinco horas por todo o centro comercial e histórico da cidade; elaborações sobre o turismo numa próxima divagação.

Fiz mais uma parada para comprar um baguette fresquinho, e agora faço um lanche com as pernas esticadas para descansar um pouco dos esforços ciclísticos e turísticos do dia. Devo assistir um filme agora e novamente ir dormir cedo; amanhã começa a conferência... até mais!

31.5.08

whiskas@ca #1

Mais uma série de relatos de mais uma viagem internacional; desta vez, estou a caminho de Montreal, no Canadá, onde participarei do workshop "Mathematical Methods of Quantum Chaos", no Centro de Pesquisas Matemáticas da Universidade de Montreal. Inicio este relato no saguão de embarque do aeroporto de Guarulhos, onde aguardo a chamada para embarque do meu vôo para Toronto.

Um breve retrospecto, para aqueles que não acompanharam o desenrolar dos acontecimentos que me trouxeram até aqui. Em setembro do ano passado, consegui meu primeiro resultado na linha de pesquisa com a qual estou engajado, demonstrando a contribuição das chamadas órbitas periódicas no espectro da condutância de um grafo; tal resultado foi refinado e, graças à um avanço bastante positivo obtido no início deste ano, foi possível estabelecer uma fórmula exata que resolvia o sistema. Tal é o assunto do trabalho que, na forma de um pôster, irei apresentar por lá. Esperamos agora estender tal linha de raciocínio para outros grafos, e já há indícios bastante favoráveis que tal generalização é possível e, mais importante, tangível num futuro próximo.

Pois bem. Avançamos rapidamente para o início desta semana, quando o último rascunho do já mencionado pôster foi apresentado ao, e subsequentemente aprovado pelo, meu grupo de pesquisa, sendo imediatamente após encaminhado para impressão. Ontem ainda levei-o ao campus para mostrar o resultado impresso, que ficou bastante bonito, devo acrescentar.

Com um rascunho da minha mala já pronto na minha cabeça, celebramos ontem à noite uma pequena "despedida" com algumas pizzas e vinho. Hoje, tratei de implementar a bagagem que havia planejado, cuja execução só não foi mais tranquila por eu descobrir, no final da manhã, que meu vôo partiria às 12h30, e não 13h22 como a reserva inicial havia planejado. Pois bem, tratei de rapidamente encerrar a mala-bike, um banho a jato, e estava a caminho do aeroporto, onde encontrei meu pai para lhe entregar o carro e me despedir.

Como a sorte o teria, fui informado que meu vôo estava lotado, com a atendente do balcão desculpando-se por ter de postergar meu embarque para o vôo das 15h - na verdade, uma troca ideal, pois permitiu-nos almoçarmos com calma... No final das contas, graças aos atrasos decorrentes do mau tempo em São Paulo e do nevoeiro em Porto Alegre pela manhã, o vôo partiu com quase uma hora de atraso, e com a escala em Curitiba, cheguei aqui em São Paulo perto das 18h30 - desta forma, com muito menos tempo ocioso para entediar-me pelo aeroporto. Com as baganges já despachadas, restou-me fazer um pequeno lanche antes de sentar, ao lado do portão de embarque, para escrever este relato...

- - -

Vôo tranquilo, num 767 reformado da Air Canada, com um esquema de luzes de cabine coloridas, algo um tanto psicodélico.. conforme iamos voando, mudavam de luzes brancas (normais) para um tom azulado.. depois luzes vermelhas, laranjas.. verdes.. até que escureceram para a noite. Um assento meio apertado na janela, um jantar vegetariano da classe executiva, não posso me queixar. Fiz imigração e alfândega em Toronto, e depois de pouco tempo, a conexão para Montreal, que saiu pontualmente no horário. Chovia bastante quando cheguei, então preferi não me arriscar pelo sistema de shuttle-metrô-ônibus e optei por pagar uns dólares à mais para vir de táxi para a residência da Universidade. Aqui chegando, desfiz as malas, montei a bicicleta, tomei um bom banho, e saí em busca do almoço - acabei comendo um Subway numa esquina aqui do lado, como voltou a chover, preferi não caminhar até o centro.

Na volta para "casa", uma parada num mercadinho para comprar artigos de primeira necessidade, e qual não é minha surpresa - as avenidas estão bloqueadas, motos passam com sirenes ligadas, e um pelotão com mais de 50 ciclistas passa voando do meu lado. Como eu prontamente havia esquecido, hoje é a etapa de Montreal da Copa do Mundo de ciclismo feminino, com direito às equipes da Menikini-Selle Italia, Cervelo-Life Force, Nürnberger Versicherung e da High Road, enfim, a trupe completa. Estou assistindo a corrida aqui da janela do meu quarto; mais tarde devo subir na bike para pedalar até a chegada (a prova desenrola-se num circuito de 10km, que faz o contorno no campus da U de M e no parque do Mont-Royal, aqui do lado). Enfim - nem bem cheguei, e já comecei bem :)

28.5.08

Rainy days and mondays...

... never get me down! Quite to the contrary.

It wasn't raining on Monday, as it rains today, but it doesn't matter. As I greeted Monica wishing her a good day, a sparkling glimpse of geniality brought me to one of the recent time's most important conclusions, which I now share. Behold: "If you don't like Mondays, change your life."

One may then discuss if it really is that simple. Over the course of the past ten years, I've worked to put myself in a position where Mondays are days I look forward to - just like, in fact, every other day of the week, come rain or shine.

People who work forty-hour weeks - sometimes in addition to attending college and other chores - tend to have a hard time grasping that another life concept is indeed possible. I insist that one can maintain a healthy family, relationships, pay the bills and keep the obligations, and still allow for a less stressful weekly routine - perhaps even with some fifteen-odd hours of cycling thrown in :)

- - -

Finished third in Sunday's Arroio do Meio race, with my team mate Lucas taking the 2nd place just behind Startec/DTool's Arlizegar Moreira. The race was marred by a crash in the final curve, with Roberto Rodrigues (Acivas/Beto's Bike) trying to cut Joao Polo (Santa Ciclismo) from the inside, sliding and taking him on the way down. Both finished, despite bruises. On the way back, we celebrated the 2-3 double with some well-earned pizza.

Yesterday, I presented my poster draft one last time for the group's approval, before sending it up to the printing shop, where I picked it up today. Looks good, which I hope will help generate some discussion around our results. Flight leaves in less than 48h, which means I have plenty to do regarding trip preparations. Catch ya later!

22.5.08

As esperas

Uma ótima corrida no último domingo, em Campo Bom, terminando na terceira colocação contra o que foi talvez um dos melhores pelotões do ano. Foi um excelente incentivo à moral, abalada com o acidente em Bento Gonçalves e o incidente mecânico em Gravataí. A corrida também celebrou o encerramento do segundo ciclo de preparação específica, o quê, em bom português, significa que os principais treinos já foram. Resta agora aguardar e, nas próximas três semanas que antecedem o Campeonato Brasileiro, realizar apenas alguns treinos de manutenção para consolidar a forma. Tento manter-me razoável quanto às expectativas, mas uma certa ansiedade já me é aparente.

No início do mês, iniciei minha candidatura à uma vaga de doutorado na Ludwig-Maximilians-Universität de Munique. Na semana passada, foram enviadas as cartas de recomendação que fazem parte do processo seletivo - e novamente aqui, aparentemente só me resta aguardar.

Em outras notícias: na próxima sexta-feira viajo para uma semana em Montreal, onde apresentarei alguns resultados no workshop de "Aspectos Matemáticos do Caos Quântico". Hoje fiz um pequeno ensaio para o nosso grupo de pesquisa com o material que preparei; levantamos muitas discussões, e espero que através da iteração com os participantes da conferência, possamos dar nova luz aos nossos estudos.

Por fim, neste domingo acontece o 2o Troféu Arroio do Meio de Ciclismo, prova que disputarei na condição de vencedor da edição anterior. Provavelmente minha última corrida antes do Brasileiro...

12.5.08

I should.. I will

Falando de DVDs com o Pedro, chego a conclusão que eu preciso assistir mais filmes. Tem muita cultura na 7a arte que eu não tenho acompanhado. E ler mais. Cada vez que eu passo pela estante de livros do meu avô, eu acho algum título interessante que digo "este eu ainda hei de ler".

E cantar mais. Isto eu tenho feito muito, dirigindo ouvindo e cantando e dançando. Dançar mais também, aliás, fora do carro, de preferência - aqui entra a reclamação-padrão da falta de um lugar com música boa, que comece a tocar cedo, e do qual eu possa sair sem me sentir um cigarro ambulante. Mas enfim. Começar a pintar. Algumas aquarelas, ou alguns desenhos à lápis em folhas grandes. Comprarei um cavalete alguma hora dessas.

Assisto um pouco da RAI procurando a transmissão do Giro d'Italia, e acrescento à lista aprender italiano. Ma che bello! E outras línguas talvez menos populares. Virão, no seu devido tempo... E as aulas de arco-e-flecha, para as quais já estou atrasado.

4.5.08

Faster, faster, the lights are turning red!

Maybe I don't know where I'm heading; but if I'm going fast enough, then perhaps it won't matter and all will eventually make sense.

Maybe it's better for me not to go philosophical right now :) And yet sometimes I do try and stop to reflect upon my choices. Sometimes they make me proud; sometimes, just plain stupid. Not a good policy to regret the last ones; but one should try and learn from such decisions and improve them on a next occasion, if a remedy is for the present not an alternative.

- - -

Igrejinha was a great, miserable race. Temperatures on the 15 degree Celsius mark, winds and rain, lots of rain. I made the mistake of going directly from my rollers warm-up to the 'underwater' start line, and the temperature shock took its toll. Breathing was hard, and after a while I had my legs on the verge of cramping up. Even though I launched the winning attack, I couldn't hold the pace and ended up letting Rui Barbosa (Startec/DTools) and Roberto Rodrigues (Acivas/Beto's Bike) escape up the road, battling to hold my 3rd place from Daniel Salazar (APEG/MCN), who was chasing behind. I managed to, but just barely. My teammate Lucas outsprinted Leonardo Maraschin (Acaci/UCS) for the final podium placing. All in all, pretty much another sunday in hell.

Back home, after a warm shower, a late lunch and some ciesta, I enjoyed a nice concert (Dvorak, which was great, together with Skalkottas and Britten who I didn't knew). Wrapping up, the traditional Pale Ale at the Mulligan Pub to celebrate the race results.

And, life in the fast lane, here comes Monday!

3.5.08

Chove lá fora...

Aproveitei o feriado de 1o de maio para um excelente pedal até Linha Brasil. Temperatura na casa dos dez graus, excelente nas subidas, talvez um pouco frio com o vento que fazia nas descidas. Tive a companhia do Rocca e da Carol que, depois de me encontrarem em Nova Petrópolis, me acompanharam até o sítio, onde comemos um risoto de tomates secos regados a um Reservado Concha y Toro. Uma ciesta obrigatória, e no caminho de volta esbaldamo-nos na Padaria Petrópolis, com direito a salgados, doces, café e muitos quitutes mais. Dirigimos de volta ao som da eclética trilha sonora do Rocca.

Subi novamente na sexta-feira, desta vez de carona com meu pai; a bicicleta havia ficado lá, aproveitei para trazê-la. Na volta, outra vez a parada obrigatória na Padaria para fartar-se com as guloseimas. O dia terminou com pizza, vinho e "Paris, Texas" no DVD.

O treino de hoje foi cancelado devido a chuva - Porto Alegre está aparentemente embaixo d'água. Rodei uma hora no rolo ao som de Aerosmith, depois almoço, ciesta, navegando a esmo - a preguiçosa rotina de um sábado antes de uma competição.

- - -

Chega disso por hoje. Hora de um quentão, um livro, e uma tarde com os amigos. So long!

Auto-análise, parte n

Definir algo como "mediano" soa bastante melhor que "medíocre". A performance em Gravataí foi, portanto, mediana. Não consegui fazer a seleção ("make the selection", traduzam como quiserem) no serrito onde 8 atletas escaparam, mas fora isto, não posso me queixar do desempenho nos 140km da primeira etapa, tendo inclusive atacando diversas vezes próximo da chegada, infelizmente sem sucesso. Fiquei um tanto decepcionado com a performance no contra-relógio - tão logo iniciei minha corrida nos 6km daquela etapa, senti que as pernas não corresponderiam, ainda impregnadas do ácido láctico produzido pelo esforço do dia anterior. Ainda assim, fiz o 7o melhor tempo, com direito ao comentário jocoso que fiz ao meu pai tão logo meu tempo foi superado: "Pelo menos eu nunca fui suspenso por um exame anti-doping.." Rogelin e Nilceu que o digam... Na etapa de circuito, estava contente em andar junto com o pelotão e defender minha posição no top 15 da classificação geral, quando no meio da prova, levei meu câmbio dianteiro a cometer suicídio, o que me levou mais cedo para o chuveiro. "Live to fight another day", escrevi.

O ponto que me deixou bastante meditativo, porém, foi o fato do campeão brasileiro, usando uma bicicleta de estrada sem auxílios aerodinâmicos, ter cronometrado um tempo quinze segundos mais rápido que o meu, com minha magnífica Cervelo, ainda que realmente eu não estivesse em um dia bom. Nem quero entrar no mérito das substâncias que ele poderia estar consumindo; tem vários amadores aqui do estado que tomam isso ou aquilo e isso já não me incomoda. O ponto que faço aqui se refere à disputa de um atleta amador que treina talvez 10 ou 15 horas por semana contra um profissional que é pago para fazer isso e provavelmente tem o dobro de tempo no selim. Estaria eu dando murros em ponta de faca? Apesar da constatação da dura realidade, não se alteraram em nada meus objetivos. Ainda pretendo ir para o Brasileiro lutar pelo melhor resultado possível.

Iniciei uma divagação sobre a dualidade, ou a pluralidade, o conciliar de mais de uma atividade de alto nível em uma vida de outra forma normal. Só na montagem desta frase já tenho diversos ganchos para puxar: o que é conciliar? Encaixar as atividades nas 24 horas do dia é plenamente possível, mas descobri há tempos que não funciono sem alguns obrigatórios momentos ociosos. De alto nível? Quão alto é alto o bastante? Ganhar corridas no certame amador é só médio, certo? E a produção científica? Preciso ter um artigo na PRL para poder considerar meu trabalho de mestrado como "de alto nível"? Por fim, uma vida normal - sob os parâmetros de quem?

- - -

Minha Renn 575, a roda fechada que encomendei para correr o Brasileiro, chegou na casa do Benjamin. Estou agora a tratar da melhor forma de trazê-la para cá. Me lembrei daquela clássica pergunta, "Casar ou comprar uma bicicleta?" - a resposta que escolhi parece ser bastante óbvia :)

28.4.08

Sometimes

Sometimes nothing happens and all of a sudden everything is entirely different, even if still completely the same. And sometimes it's just the opposite. "Quando urubu está com azar, atola até em laje". Living to fight another day.

And kudos to whoever can decipher the above :)

21.4.08

There's blood...

...but there are also endorphines!

I crashed again, this time at yesterday's Bento Goncalves race. As I plunged too fast in a sharp curve, my rear wheel skidded and I flew over, hitting both knees and elbow on my way down. The right kneecap took the worst damage, enough to discourage me from continuing the race. All bandaged up, I drove back immediately after.

Still, it wasn't enough to shatter the good feelings I had developed over the past few days. Sports-wise, of course, but also academically - I learned of my acceptance to MAQC'08 in Montreal, and finally managed to obtain a 100%-exact trace formula for the graph system I was studying since last year - which even got me a congratulatory phone call from my advisor in Spain :) . And to top the endorphines stock, I went out for some dancing on Friday night and had as much fun as I hadn't had in a long time.

Finally, mostly silently, yesterday I began a countdown. Some 179 days left if everything goes as planned. Here's to that!

14.4.08

Sunday in Hell, Monday on Campus

O segundo domingo de abril é reservado, tradicionalmente, à clássica Paris-Roubaix, prova no norte da França tida como a mais dura do circuito de corridas de um dia. Nos seus mais de 260km, os corredores enfrentam quase 50 km de estradas de paralelepípedos medievais, além das baixas temperaturas, vento e chuva associados à primavera no norte do continente europeu - daí seu apelido, "Inferno do Norte"

Nos pagos do Sul, neste domingo foi disputado o Troféu 122 anos de Taquara, válido como a 7a etapa da Copa União de Ciclismo. Passei o sábado de molho devido à uma gripe que me atacava desde sexta-feira e apropriadamente, fazendo jus ao evento europeu, a noite anterior à corrida trouxe uma frente fria e chuva recorde em todo o estado; as temperaturas cairam, e com o raiar do dia, quando nos dirigíamos para Taquara, muitas ruas encontravam-se embaixo d'água. Poucas horas antes da largada, dois colegas da minha equipe me telefonaram para avisar que não iriam correr, ambos acanhados pela intempérie. O prognóstico - corrida na chuva, gripado, e com a equipe desfalcada - me deixava muito entusiasmado: adversidades são poderosos fatores motivacionais.

Fiquei surpreso com o número de presentes na largada, incluindo equipes de Caxias, Vacaria, Novo Hamburgo, Porto Alegre, estimo quase 20 ciclistas na largada principal (naturalmente muito menos que os 80-100 de uma prova grande, mas dentro da média das últimas edições da Copa União, que foram realizadas com condições climáticas muito melhores). O circuito, o mesmo onde eu havia conquistado a vitória na Copa União do ano passado, estava novamente encharcado e escorregadio. Largamos, e em menos de 5 voltas ditando um ritmo forte, já havia me distanciado do pelotão junto com Roberto "Betão" Rodrigues (Acivas/Beto's Bike) e Rui Barbosa (Startec/DTools). Trabalhamos em conjunto para ampliar a nossa vantagem, e inclusive colocamos uma volta de vantagem sobre os demais adversários. Tentei atacar na penúltima volta, mas entrando em alta velocidade numa curva, perdi a traseira ao passar por cima de uma faixa de segurança e quase fui ao chão, tendo de reduzir bastante a velocidade para não cair - o que possibilitou que os outros dois me alcançassem. Abri mão da disputa do sprint depois que julguei muito perigoso arriscar tudo na última curva (onde o Betão quase derrubou o Rui ao ultrapassá-lo por dentro), e fiquei com o 3o lugar, ainda assim muito satisfeito com o meu desempenho. Terminei a prova ensopado, coberto de sujeira, numa imagem que não deixava nada à dever para a famosa fotografia de Paris-Roubaix. Um verdadeiro domingo no inferno :) .

Me sequei como pude para a viagem de volta, comemos um sanduíche e tomamos um chocolate quente num posto de gasolina, e partimos de volta para casa, onde cheguei quase no meio da tarde, encarangado de frio. Deliciei-me com um banho quente e um enorme prato de feijoada, já com roupas secas. Depois de uma boa ciesta, encontrei-me com alguns amigos para comemorarmos a premiação (o 3o lugar, além do bonito troféu, ainda rendeu algum dinheiro...) com uma tradicional torre de Pale Ale do Mulligan.

E hoje, de volta à rotina acadêmica, com novas bibliotecas e um novo compilador, consegui implementar a simulação do meu grafo com precisão quádrupla, permitindo esclarecer a dúvida sobre a qualidade dos dados anteriores. Infelizmente, os novos gráficos não mostram a diferença de órbitas que haviamos detectado antes; terei de procurá-las em algum novo sistema para não perder o "resultado inédito" que pretendia apresentar. Mais diversão pela frente...

12.4.08

Builds

The training phase following base, where the development of endurance forms the core of the training sessions, is usually called "the build period". In this stage, one incorporates strength and speed workouts and increases the intensity of the efforts, building fitness to a peak. It is, by far, the part of the season I enjoy the most. Following my wins in the 500 Miles and Parobe, I'm quite motivated to the next round of fall races: Taquara - a race I won last year - tomorrow, Bento Gonçalves the following week, and "Volta de Gravatai", a national calendar race, at the end of the month.

A build period could also be defined for my master's work. Following one year of base - which one could define, academically, as the period when I took most of the courses and readings - I'm working actively on my master thesis, building up to what I expect will reach a peak come winter (for us, that'd be somewhere in June or July). That is, if I can overcome the current crop of uncertainties which surround my graphs: while building data for my thesis, I decided to run some consistency checks on my previous data, and some of it failed. So I went back to Maple and recreated all the equations from scratch - a good opportunity to review the basics - and got a new result, on which I later applied a Fourier transform. All is well, and the resulting dataset was pretty much identical to what I had obtained half a year ago - minor differences of around 10^-20 - less than a billionth of a billionth. Seems irrelevant, except the outcome of the new transform was entirely different from what I had found earlier. Chaos is defined as the hypersensitivity to initial conditions - and from this definition, my system's classification as chaotic is quite appropriate. I am now fighting Fortran's numerical methods to obtain a higher precision dataset, on which I can guarantee which result is indeed 'correct' - and then write it up.

In other news: submitted a paper to a conference in Montreal, Canada; pending approval, I'll be off for a week in early June. Applied to a Ph.D. position in München, and am now waiting for my references to write them good recommendation letters and, hopefully, I can start somewhere in November. And before that, together with Kàzic and perhaps my other cycling buddies, I intend to ride from the Atlantic to the Pacific - right now we're still researching the best routes, equipment necessary, and all that goes along with such an endeavour. Putting it all together means that there will be no place for boredom in the last few months on this side of the pond :)

3.4.08

Of music, cycling and physics

Following my trip to Uruguay, I took an easy training week to allow the body to heal from the race efforts - and wounds :(. With the extra time, I worked a little more on my dissertation, and prepared an abstract for the "Mathematical Aspects of Quantum Chaos" conference. This will take place in Montreal in early June, and I hope to be there for a chance of presenting my work and getting some feedback before my defense. I also made first contact with a group in München which has an open Ph.D. position I intend to apply. The position is still open and at least on paper I fulfill the requirements. Now I have to wait for recommendation letters, possible interviews, and hope for the best :) .

This week, I started working on some new calculations for some old graphs - some consistency tests detected minor flaws, which I intend to correct before putting them down on paper for my diss. Also got back to the regular training regimen, with the first Build week of the season. Some intervals and speed work - a nice change from the endurace-focused base weeks of the previous months. Can't wait to get some more racing :)
Edit: I forgot to add (how modest!): last weekend I won another race, a stage from "Circuito Vale dos Sinos de Ciclismo", which took place in Parobe. The team performed flawlessly, and besides my victory, we also managed a 3rd and a 5th spot - filling the podium with our orange jerseys :)

To top it off, I also went to two concerts this week. On Tuesday, OSPA played the Polovetsian Dances, from Borodin, and Tchaikovsky's 5th Symphony, to a full house. Yesterday, courtesy of the German Consulate, we heard the Tübinger Kammerorchester - with their wonderful solist, Julia Galic. Really, really good. Music has been an integral part of my activities - be it listening to loud rock (or piano concerts!) on the car while driving, or some Bossa Nova on my headphones while reading articles or working on my diss - it keeps the brain cells happy, it seems - couple that with chocolate and caffeine, and voilà!

25.3.08

500 Millas después

Na última segunda-feira, dia 17, dirigi 650km na compania do Rocca até a cidade de Artigas, no norte do Uruguai, para participar da 40a edição das 500 Millas del Norte, tradicional prova que acontece na semana da Páscoa.

A prova começava na terça-feira à tarde com um contra-relógio individual de 1,5km pela avenida principal da cidade. Seria o batismo de fogo da minha nova Cervélo. Largávamos conforme o número de nossa inscrição; eu era o 72o ciclista a largar. O melhor tempo ainda era do primeiro ciclista, o campeão do ano passado e detentor da dorsal 01, Cláudio Arone (Italomat/Argentina), com 2m04s.

Largo com força na leve descida dos primeiros duzentos metros, as marchas rapidamente indo para metragens maiores e maiores, mesmo com a subida nos últimos 500m do trajeto de ida. Quase erro a curva do retorno, freando bruscamente para fazer a virada antes da rótula (achava que se fazia o contorno da mesma para então voltar). De volta na posição aerodinâmica, a bicicleta acelera assustadoramente na descida, tento pensar em não cair ao voar por cima de um quebra-molas, faço os últimos 200m num leve aclive e cruzo a linha esbaforido.

Depois de desacelerar e voltar girando para o ponto de largada/chegada, o Rocca vem sorridente. "Cara, teu tempo foi o melhor!"
"Fala sério!"
"Tô te dizendo, dois e zero-dois, é o melhor tempo até agora!"
As pernas tremem um pouco. Já foram 70 ciclistas, ainda faltam mais de 30, ou seja, pouco mais de meia-hora. Faço um desaquecimento para soltar as pernas, e aguardo ansiosamente na "cadeira elétrica" até o último ciclista chegar. Caracas, ganhei a etapa! Cumprimentos dos outros ciclistas, dos organizadores, entrevista na rádio, gente pedindo pra tirar fotos - surreal, no mínimo. No caminho de volta pro alojamento, ligo pra casa pra contar pra todo mundo. Depois do banho e janta no comedor de barrio, e já com a planilha de tempos oficiais na mão, faço mais algumas ligações e vou com o Rocca comer um helado para comemorar.

Na quarta-feira, recebo a malla a quadros do prefeito antes dos 118km da etapa Artigas-Quaraí-Livramento-Rivera. Mais uma entrevista para um jornal, fotos. Partimos, e ando na frente do pelotão, abanando e curtindo o cerimonial da largada controlada até o início oficial da etapa. Não tinha pretensão nenhuma de defender a liderança, uma vez que estava correndo sozinho, e os próximos concorrentes possuiam todos equipes bem fortes para apoiá-los. Em algum ponto próximo a metade do trajeto, já incapaz de responder a cada um dos ataques, uma fuga se estabeleceu e eu me contentei em andar no pelotão até nos aproximarmos de Rivera, quando tomei novamente a frente para exibir minha camisa ao entrarmos na cidade. Cheguei exausto, mas ainda assim radiante. Completar um dia com a camisa de líder foi uma experiência talvez tão incrível como ter ganho a etapa no dia anterior.

Nos dois dias seguintes, sem a liderança para defender - de fato, havia caído para algum 38o lugar - pedalar no pelotão foi bem mais fácil. Infelizmente tive um pouco de azar na quinta-feira, numa etapa de 113km, furando meu pneu dianteiro quando restavam menos de 10km para a chegada, o que me custou alguns minutos na classificação geral, mas ainda estava bem contente com meu desempenho na etapa. Na sexta igualmente, me concentrei em economizar energias andando sempre de roda no pelotão, junto ao qual cheguei depois dos 95km da etapa.

Então, veio o contra-relógio de sábado. Depois da minha vitória na disputa com o cronômetro no primeiro dia, eu era cotado por vários como favorito para esta etapa, de 20,5km. Largávamos na ordem inversa da classificação geral, com um intervalo de um minuto entre cada ciclista. Eu era o 46o ciclista a largar, exatamente no "meio" dos 91 que ainda permaneciam na competiçao. Fiz meu aquecimento, alinhei para minha largada, e arranquei - queria imprimir um ritmo forte desde o início. Então, minha corrente escapa e eu pedalo em falso, olho para baixo para tentar entender o que se passa, e minha roda dianteira acerta uma pedra, me fazendo voar por cima do guidão e aterrisar no asfalto. Caí raspando a lateral direita, batendo o joelho, quadril, braço e cortando minha mão, que estendi para tentar me proteger da queda. Fui imediatamente colocado de volta em cima da bicicleta por alguns torcedores, tão rápido que não tive sequer tempo de dizer "Mas está doendo!". Com um empurrão, estava andando novamente, ainda meio torto em cima da bicicleta que, por sorte, nada sofreu.

Foi um contra-relógio de merda. Na primeira subida, não conseguia fazer força pedalando em pé, por causa do ferimento na bacia. Baixei as marchas para a coroa menor, esperando permanecer sentado e girar mais, mas com isto minha corrente caiu, e perdi mais algum tempo até colocá-la de volta. Subi num ritmo medíocre, bem abaixo do que havia planejado quando fizemos o reconhecimento do percurso no dia anterior. O vento forte que incidia perpendicularmente à estrada também não ajudava, a dirigibilidade era terrível, e eu me debatia para conseguir manter um ritmo forte em cima da bicicleta. Próximo ao retorno, alcancei o ciclista que havia largado um minuto na minha frente, um atleta da seleção brasileira de juniores, e ao fazer a volta, gritei para o Rocca no carro de apoio "cara, tá doendo muito, só vou completar". Só completar, certo, mas não queria chegar com um tempo medíocre. Mantive o passo, mas sem forçar nas subidas e descendo com cautela, segurando nos freios para não correr o risco de levar outro tombo. Alguns quilômetros depois alcancei o ciclista que largara dois minutos na minha frente, e isso me motivou a tentar andar um pouco mais. Nos últimos dois quilômetros, já vendo o ciclista dos 3 minutos na minha frente, tentei dar um gás para alcançá-lo antes da chegada, mas sem sucesso. Doia muito quando cruzei a linha, e imediatamente pedi ao Rocca que chamasse a ambulância para olhar meus ferimentos.

No radio da ambulancia está passando a narraçao das 500 millas. A enfermeira, ao me atender, pergunta:
"¿Te ha caída después de la llegada?
"No, no, cai luogo después de la largada", respondo no meu sofrido portuñol.
"¡Pero tienes el mejor tiempo hasta el momento! ¿És Ricardo Mariense, no?"
O Rocca chega na ambulância logo depois e confirma que eu havia cronometrado 31m07s, de fato o melhor tempo dentre os quase 50 ciclistas que já haviam completado a prova. Feitos os curativos, voltei à expectativa de aguardar os demais que chegavam. Somente com o 14o-penúltimo ciclista o melhor tempo caiu para 31m05, e com os últimos oito ou nove é que a marca foi sucessivamente melhorada, até o líder da prova completá-la em 29m28s. Acabei na 10a colocação, que já seria por si só um resultado fabuloso, mas que foi comemorada como uma vitória dadas as circunstâncias com que a obtive. ¡Alto cinco!

A noite foi bem ruim, dormir com machucados abertos é sempre um tanto traumático, mas consegui descansar suficientemente para poder largar a última etapa, domingo pela manhã. Antes da largada, o Rocca disse tudo: "Se vais ficar reclamando das dores, empacotamos a bicicleta e vamos pra casa agora. Mas se tu vais mesmo largar, então soca o pau!". Andei no grupo da frente a prova inteira, inclusive andando escapado por alguns quilômetros antes de ser recapturado, e atacando de novo na subida do "repecho" faltando 30km para o fim da etapa (infelizmente novamente neutralizado). Com o forte vento lateral nos últimos 10km, o pelotão se dividiu em dois, e fiquei na metade de trás, perseguindo o grupo que estava sempre 20 ou 30s na nossa frente. Entramos na cidade, tomada pelo público nas ruas ouvindo a narração com radinhos colados aos ouvidos, tomei a dianteira para tentar diminuir um pouco mais a diferença com o primeiro pelotão, e para ter a melhor visão de todo o espetáculo que se encerrava. Embalei para o sprint e cruzei a chegada junto com outros 30 ciclistas, numa rua que era tomada pela multidão pedindo autógrafos e souvenirs dos ciclistas que iam completando a prova. Só tenho motivos a comemorar, o que faço prontamente, congratulando outros ciclistas, recebendo parabéns dos organizadores e dirigentes, de outros atletas, do público em geral - incrível mesmo.

Banho no alojamento, bicicletas no carro, um sanduíche reforçado antes de pegarmos a estrada, e encaramos as quase 8 horas de viagem de volta para Porto Alegre, onde chegamos perto das 22h do domingo. Foi fantástico. Depois de duas tentativas frustradas (2003 e 2005), consegui chegar ao final de uma edição das 500 Millas, ainda por cima trazendo de volta a vitória em uma etapa e uma camisa de líder.

As 500 Millas eram o primeiro objetivo esportivo desta temporada. Há um ano e meio atrás, anunciei que queria voltar a competir seriamente, e mencionei esta corrida como um dos objetivos. Como diz meu padrinho, "Entscheiden heisst Verzichten": escolher é desistir. Talvez pouca gente saiba do que foi preciso abrir mão para chegar aqui hoje, e talvez menos ainda compreendam as razões, mas não é isto que importa. Foi e está sendo um caminho fantástico, e só posso agradecer a companhia daqueles que tem andado junto. Valeu Rocca por todo o apoio lá no Uruguai, obrigado aos colegas da faculdade e do ciclismo pela torcida dos que ficaram por aqui, ao meu pai por tornar tudo isso possível, a todos familiares próximos ou distantes que acompanharam, aos amigos que vieram comemorar ontem este resultado. Obrigado mesmo. Essa é para vocês.

15.3.08

Of my scientific learning

Derivatives: Maybe it's not about the state you're in, but rather, the difference from your previous state. One may be feeling great, and still be great if something, however small, goes amiss, but all of a sudden it feels not so. Conversely, if one is down, a subtle change can bring one to near-euphoric states, even if the new, more elevated state still looms deep in the shadows. Still, it's supposedly far easier to return the positive derivative if you are way up rather than way down...

Locality: Action-at-a-distance is vigorously denied by relativity, and still quantum mechanics paradoxically insists on it. Speaking of myself and not of the EPR experiment, it is irrefutably true: I am indeed affected by actions and thoughts which take place some ten thousand kilometers away from here - the question of whether they violate causality remains open.

And thermodynamics, of course: the entropy just keeps increasing...

13.3.08

Forty-two

Mouse: What does that mean?
Cypher: It doesn’t mean anything.

I went with my dad to a concert at the Goethe Institut yesterday. Well, we tried to. We learned, upon arrival, that the German piano-cello-violin trio had canceled their brazilian tour at the last minute. Nothing else to do, and as they had this german-styled bar at the Institute's entrance, my dad invited me to a German beer, an offer I promptly accepted.

My German teacher, Magda, once explained her views on what a typical German considers to bring the most profound happiness - in her view, that was the sense of accomplishment. As I sat and drank my beer(s), I pondered over that idea. All my tasks for the day had been successfully carried off, and that indeed allowed me to enjoy the evening all the more. Of course, I could have had a good time even with tasks still open - which has, for sure, happened on other occasions - but the perception of relative freedom certainly amplificates this feeling.

Which then brought me to the second pseudo-philosophical issue of the evening - motivated in part by my recent readings of the development of the quantum theory - "how reality is defined by how we perceive things, and not necessarily by the facts themselves" (*). The old question of the glass being half-full or half-empty, I guess. Given some random fact, I can either examine it under a negative light, or give it a positive spin and try to make the best out of whatever can be made of it. Some time ago, I made a choice to try and follow the second route whenever I could. Sometimes the situation looked grim, and my choice had to be reminded, most frequently by my closest friends, which would then put myself back on a positive spiral (aren't my friends great?). Accomplishing lots in different fields did help keep my spirit high - so even if I get less-than-stellar results in one area, I can usually more than make up for that in another. Again back to the tune of accomplishment - for good or worse, being analytical in nature, I tend to measure myself. Still, sometimes the most genuine happiness comes from little, unmeasurable things. As wisely put by Moni, allowing one to enjoy those little moments - and to do it often - that is the ultimate goal in, or meaning to, life. :-)

(*) One may ask, indeed, if an underlying reality exists at all. In Physics, I tend to favour the Kopenhagen interpretation, and I'll consider to hold a similar position to answer, in the broader sense, the question I posed.

11.3.08

There and back again

For the sake of my international readership - German would only be understood by a hand few, and Portuguese pretty much rules out all my native-European friends - here's to you an English post. I've been writing seldomly in Shakespeare's language, so it may be worth to exercise it more often.

I've been across the pound, and back again. I've met some interesting people there, had great conversations with closest friends, and a few spectacular bike rides to top it off. And then I flew back - and upon arriving I felt, perhaps even more strongly than after my year-long stay, how much I in a certain sense belong in my home away from home - or simply put, how much Nürnberg and region has become a home to me.

Tomorrow it'll be a week since I returned; so far I've been focused on doing (finishing) what has to be done, enjoying the remaining time with my friends, and keeping the focus of being back soon - only this time, 'back' means the Old Continent.

(In this paragraph) I'll avoid a detailed week review, rather just listing the facts (as in the "Isoladas" post): Arrived on Tuesday, picked up by my Dad and Vitorio, put the bike together, had mom-cooked food for dinner. Synchronized on Wednesday, short AM ride, small tasks in the afternoon, Vitorio's birthday at Mulligan's pub in the evening. First ride with my new Cervélo on Thursday, went to campus only to find out that my advisor had extended her absence leave for another month (ah, the joys of student-advisor communication!) First French class of the semester (felt funny on the ears after two weeks of full-on German). Friday had a double training load, then dinner out with my Physics labmates. Saturday with Chimarrão on the park, a visit to my Oma (Grandma) to show her some of the photos, then pizza with some friends in the evening while doing some USFIRST volunteer work.

Then Sunday (returning to the more usual, detailed writing style) I went to Estancia Velha (some 60km from Porto Alegre) for the 4th stage of Gatorade/Union's Cup. I had some expectations regarding my performance, as I had missed some workouts during my trip to Germany, and had spent most of the week leading up to this race experimenting with my time trial bike. I'm quite satisfied with how it (I) turned out, launching some attacks and driving the winning break pretty much all the way into the final lap. Unfortunately some other riders weren't as willing to let their legs take an even share of the load, so after launching the sprint I braked hard and avoided coming into the first positions, therefore denying myself of a podium spot - my way of protesting about the entirely legal, but mostly unethical way some decided to race. All in all I was satisfied about how I and the team rode, which is undoubtedly more important than some small prize money or yet another medal on the stack. Back home, met some friends at the park again to enjoy the nice, warm evening with a mixed fruit juice from the traditional "Lancheria do Parque".

And at last, but definitively not least, this Monday I got started on my diss. Configured the main LaTeX structure and set placeholders for each of the chapters and sections I intend to write, making notes of content and references which are to come. There are still some calculations to be done, assuming, of course, we'll take these results as definitive. Goal is to be around 60-70 pages, so I still have quite a way ahead. Nevertheless, it felt very good to have it actually started.

"And miles to go before I sleep" (Robert Frost) - so off I go!